A simples vida de Rafael Tavares, torcedor do Flamengo, ganhou contornos constrangedores na última semana.
Administrador de uma pequena loja de material de construção no bairro de Campo Grande, o sócio-torcedor rubro-negro rotineiramente tem o costume de levar sua família ao Maracanã para curtir os jogos do clube.
Não foi diferente no último dia 21 de novembro. Rafael, sua esposa e seus dois filhos, uma menina de 17 anos e um menino de 11, foram curtir a vitória do Flamengo diante do Grêmio, resultado que deixou o time de Dorival Júnior ainda na disputa por mais um Brasileirão.
O gol de Diego, marcado nos minutos finais, foi o grande momento de consagração da partida. Não para todos. Na comemoração, o craque foi até à torcida rubro-negra e abraçou parte do público presente ao estádio.
Na tomada da TV Globo, uma imagem dá a impressão de que Rafael, de camisa azul no vídeo, teria posto a mão nas partes íntimas de Diego. A sequência de cenas, repassadas por um torcedor anônimo, rapidamente ganhou os grupos de WhatsApp e redes sociais, gerando um total desconforto a Rafael e sua família.
No dia seguinte, felizmente, uma foto revelou que tudo não passava de um engano. Por um outro ângulo, foi possível perceber que Rafael puxava a camisa de Diego e, em nenhum momento, o torcedor encosta em outra parte do corpo do meio-campista.
Entretanto, o estrago já estava feito. Procurado pelo Audiência Carioca, Rafael explicou detalhadamente tudo o que aconteceu naquele fim de jogo e revelou detalhes do momento que vivem ele e seu filho, cuja identidade está sendo preservada.
Além de ser bombardeado pela internet e achincalhado nas ruas, o filho de Rafael vem sofrendo bullying na escolinha de futebol, pelo celular e também por pessoas mais próximas. Rafael revela o desejo do pequeno e o que o motivou a puxar o jogador: “Ele só queria conhecer o Diego”.
Audiência: Como foi a última quinta-feira, 22 de novembro, após toda a repercussão do vídeo?
Rafael Tavares: Minha quinta-feira foi muito atípica, pós-jogo ou qualquer coisa que eu já tenha feito. Invadiram minhas redes sociais. Meu Facebook é fechado, mas meu Instagram não. Recebi muitas ofensas. Muita gente me xingou. Sem contar que eu andava na rua e não conseguia ir na padaria. Todo mundo vinha com uma gracinha. Foi bem complicada minha quinta-feira. Aliás, não só a quinta, como hoje mesmo. Aqui no trabalho já vieram uns dez aqui e me zoaram. Ou então gente passando na rua. Está complicado.
Audiência: Os ataques eram homofóbicos ou apenas zoação pela cena polêmica?
Rafael Tavares: No Instagram recebi alguns ataques homofóbicos. Mas, alguns foram mais em tom de zoação. Falando ‘gordinho viado’, ‘gordinho de mão cheia’, daquele jeito que a gente sabe que funciona.
Audiência: O que você quis fazer exatamente naquele momento em que o Diego foi comemorar ali perto da torcida na hora do gol?
Rafael Tavares: Se você vir a imagem completa, a minha intenção era puxar o Diego para tentar fazer meu filho abraçá-lo. Quem queria abraçar e tocar no Diego era meu filho. Eu tentei puxar ele para trazê-lo e empurrar meu filho para cima dele. Só que tinha muita gente em volta e eu não consegui. O Diego chega do meu lado, eu tento pegar ele primeiro pelo pescoço, só que não consigo. Ele está travado no meio da multidão, imprensando a gente contra a mureta. Tentei puxar o Diego pela cintura, mas foi inviável. Pelo menos meu filho conseguiu tocar no braço do Diego e foi uma felicidade absurda.
Audiência: Você teve algum problema com a sua família? Com a sua esposa, houve algum constrangimento?
Rafael Tavares: Não. A minha esposa estava lá, mas ela estava uns cinco degraus acima com a minha filha. A gente estava em família no estádio. Pelo fato do meu filho querer chegar perto do Diego, eu fui com ele para tomar conta. Elas ficaram acima. Eu só dei conta da repercussão no outro dia, quando eu vi no meu Instagram muitas visualizações. Eu nunca tive mais que cem visualizações. De repente eu olho e vi que tinha mais de 8 mil visualizações. Foi aí que eu abri o WhatsApp, comecei a ver e falei assim: “babou”. Nessa hora eu já tinha levado meu filho para o colégio. Aí eu venho para o trabalho e começaram as zoações. Mas a minha família está tranquila. Tudo não passou de um mal entendido de um jogo de câmeras.
Audiência: E com o teu filho, como está sendo? Afinal, você estava ali por ele…
Rafael Tavares: Para ele está sendo bem difícil. Para mim, as ofensas passam batidas. Eu não dou ouvido a isso. Só que para ele não. Começaram a atacá-lo. O menino teve que fechar o Instagram dele e da minha família. Começaram a invadir tudo para poder falar. O meu deixei aberto para o pessoal falar o que quiser. Ele tá sofrendo. Toda hora mandam um negócio para o WhatsApp dele, uma gracinha, coisas que não deviam se falar para uma criança. As pessoas são sem noção. Estou tentando trabalhar na cabeça dele para não se abater. Ele não quer ficar na rua, não quer mais ir para o campo da escolinha. Lá o pessoal, gente velha, pai de aluno, ficaram zoando ele. Para ele está difícil. Para minha esposa, acredito que ela está tirando de letra. Nós somos mais maduros e conseguimos segurar bem.
Audiência: Mesmo depois deste episódio, teu filho ainda tem o sonho de conhecer o Diego e, quem sabe, amenizar esse mal estar todo?
Rafael Tavares: Com certeza. Apesar de assustado, ele continua tendo o Diego como ídolo. Para ele seria muito top. Até porque seria muito bom para a auto-estima dele. Eu queria não que o Diego se sensibilizasse com a minha história, mas com a história do meu filho. Se ele pudesse dar uma oportunidade para o meu filho ir lá, bater um papo com ele, apertar a mão dele e bater uma foto. Só para ele tirar esse peso das costas. De certa forma, meu filho está se sentindo culpado. Para tentar realizar um sonho dele eu estou sendo massacrado na internet. Ele comentou com a mãe: “Tudo isso está acontecendo por minha culpa. Se não fosse por mim nada disso teria acontecido”. O problema todo não é comigo. É com ele. Eu gostaria muito de ter essa oportunidade de esclarecer essa situação. Um simples gesto de aperto de mão para poder sanar essa nuvem que está passando na vida dele.