As inúmeras mudanças no texto de Pantanal têm mobilizado e criado debates nas redes sociais sobre a condução do remake na Globo. Bruno Luperi, neto de Benedito Ruy Barbosa, é o responsável por dar uma nova leitura ao texto e tem apostado em uma versão mais ‘cult’, em tom ‘gourmet’, termo muito usado no cotidiano das redes sociais.
Luperi trouxe temas importantes e foi muito responsável nestas tratativas: casos do racismo familiar vivido por Tenório (Murilo Benício) foi um acerto em cheio. A vergonha do vilão sobre sua segunda família e sua total falta de letramento de inclusão, somado ao seu habitual machismo, somaram a esta nova versão.
O mesmo se pode falar da questão ambiental, tratada desde os primeiros capítulos, e na recordação da homofobia de Tadeu (José Loreto), corrigida por José Leôncio (Marcos Palmeira), em 2022. Em 1990, o preconceito contra a natureza do próximo foi tratado como humor e deboche. Vivíamos outra época, onde, infelizmente, a crueldade era tratada como normalidade.
Entretanto, é preciso pontuar que a decisão em recriar tramas históricas, como Pantanal, requer uma sensibilidade maior sobre as “cenas-chaves”, realizadas em 1990. A morte de Levi, ocorrida em junho, ganhou tons cinematográficos e transformou Tibério (Guito) em um “mocinho”.
Na Manchete, não houve registros do personagem de Sérgio Reis (Tibério) estendendo a mão a Rômulo Arantes (Levi) e os dois sequer participaram de um “racha” aquático. As piranhas, responsáveis pela morte de Levi, foram trocadas por bolhas na Globo.
O mesmo se viu ontem na morte de Roberto (Cauê Campos). Em vez de ser capturado por uma sucuri antes de passear de barco, como aconteceu em 1990, o menino foi afogado pelo capanga do pai, que criou a história de que Roberto foi comido por uma cobra. Na versão da Manchete, o capanga só observa o “patrãozinho” sendo trucidado.
Este tipo de decisão, alterando bruscamente cenas clássicas da trama por tons mais “suaves”, gera frustação aos que já assistiram a novela na Manchete, no SBT ou no Youtube. Afinal, não há nada de equivocado no que é tido como “politicamente correto” dentro destes enredos. Ou seja, as mudanças não se justificam.
Pantanal foi uma trama marcada por ser diferente de tudo o que se viu na TV até então: os crimes incomuns, as agressões, a mística em tons folclóricos, a prática do naturalismo e as cenas picantes. Ignorar esses fatores é deixar de lado parte de todo um sucesso perpetuado na história da TV Manchete e da TV brasileira.
E não pensem que vai parar por aí: a castração de Alcides (Juliano Cazarré) feita por Tenório não será nem de perto o que se viu há 32 anos. Aguardem.