Crítica: Divergências comerciais não tiram o direito da Globo em fazer críticas à postura do Flamengo em tragédia

É nítido e notório que Flamengo e Rede Globo de Televisão não vivem os seus melhores dias. Antes parceiros inseparáveis, ambos não falam mais a mesma língua.

Sim, caro leitor. Um já bebeu da fonte do outro e ambos tiveram retornos interessantes.

Nesta batalha ninguém é santo e ninguém é diabo. Entretanto, como diz o ditado: “Dai a Cesar o que é de Cesar”.

O Flamengo tem todo o direito em não aceitar os valores oferecidos por qualquer emissora de televisão. Os acordos comerciais de TV permitem cada clube fazer a sua livre negociação.

É verdade que a Globo se aproveita de algumas agremiações viverem dias de “pires na mão” para barganhar um valor que lhe interesse por cotas de campeonato.

Errado? Não. É fator de mercado. Quem possui maiores possibilidades de se estabelecer terá, na maioria das vezes, condições de dar as cartas em uma relação comercial. É assim em qualquer segmento.

Em dias de graves crises financeiras, o Flamengo aceitou os valores oferecidos pela Globo porque assim precisava. Inclusive, quando necessário, antecipou cotas de televisionamento para salvar seu caixa.

Há sete anos, o Flamengo vem recuperando seu prestígio financeiro e aumentando seu poderio de renda. O notório crescimento lhe dá chance de, hoje, não se submeter a qualquer tipo de negócio.

Assim, o clube não aceitou os R$ 15 milhões oferecidos pela Globo para a transmissão dos jogos no Campeonato Carioca – o torneio tem mínimo de 11 jogos, podendo chegar a 17 para os finalistas.

Com essa decisão, os torcedores rubro-negros e os torcedores de seus adversários ou vão ao estádio ou se contentam com o velho e bom rádio. Paciência.

Tudo isso direito notório do Flamengo.

Como também é direito da TV Globo exercer e deixar com que seus profissionais exerçam o livre exercício de direito de imprensa.

FAUSTÃO DETONOU O FLA

As declarações do Domingão do Faustão feitas por seu apresentador, Fausto Silva, no último domingo (9), são um relato honesto e dentro do que boa parte da opinião pública pensa. Basta checar as redes sociais ou conversar com populares, incluindo torcedores do Flamengo.

Gostem ou não da personalidade de Faustão, o comunicador é uma figura que pouco se curva aos mandos e desmandos de sua patroa, a Globo. Não é incomum ver Faustão bater o pé sobre decisões da direção ou mesmo se posicionar sobre assuntos do cotidiano.

Tentar atribuir o discurso de Faustão a termos como “leviano” e “inconsequente” é desvirtuar o real sentido do problema. O mesmo acontece quando se acrescenta a rixa comercial sobre as cotas dos campeonatos do clube com a emissora.

Se a indenização oferecida pelo Flamengo é justa, porque tantas famílias se recusaram a recebê-la? (apenas três famílias das dez vítimas fecharam acordo).

Nesse emaranhado é bom cada um saber o seu lugar.

O Flamengo que busque uma melhor gerência sobre a administração das suas crises envolvendo vidas, e a Globo que faça seu jornalismo, com independência.

E os dois que se resolvam com as cotas de futebol. Ou, rompam de vez.

Eduardo Moura é jornalista e assina o portal Audiência Carioca. E-mails para a coluna, com críticas, elogios e sugestões: clique aqui.

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