Clovis Monteiro comemora neste domingo, 5 de maio, mais um ano de Super Rádio Tupi. Exatos 23 anos comandando o show que leva o seu nome na rádio mais popular do Rio. Dias antes de comemorar o feito, o comunicador abriu o jogo sobre diversas passagens de sua carreira.
Gaúcho de natureza, carioca de coração e torcedor do Botafogo, Clovis falou também de outros assuntos. A concorrência do agora colega Antônio Carlos, quando o ‘Madrugador do Brasil’ estava na Rádio Globo. Além disso, a greve que assolou a Tupi na virada de 2016 para 2017 também não ficou de fora.
Confira o bate-papo no Youtube e em texto!
A CHEGADA AO RIO
“Esse ano estou completando 23 anos no programa da manhã. Eu passei pela Rádio Tupi por 8 anos, cheguei nos anos 80 no Rio de Janeiro. Fui folguista, locutor de chamadas, locutor de comercial e fiz férias dos comunicadores. Ganhei um programa aos domingos. Começava às 5h e ia até o meio-dia. Uma maratona! Tive a sorte de trabalhar com grandes comunicadores aqui na Tupi. Trabalhei com o Chico Anysio, o João Saldanha, o Afonso Soares, o Samuel Correa, o Julio Lousada, o Paulo Lopes foi meu contemporâneo. Grandes nomes, como o Carlos Bianchini, a Cidinha Campos, Alberto Cury, o o Kleber Leitte, o Doalcey Camargo, o Luiz Penido… Eu tive muita sorte logo que eu cheguei no Rio”
INÍCIO DOS PROGRAMAS
“Quando eu ganhei o programa, eu fiquei cinco anos com o Show do Clovis Monteiro, à tarde. Nos anos 90, eu fui para a Rádio Globo. A Globo fez 50 anos e mexeu na programação. Era difícil a Globo mexer na programação naquela época, sob o comando do Mário Luiz. A Globo era líder absoluta na ocasião… A Tupi ganhando alguns horários. Eu fui para a programação de 50 anos da Globo, eu entrava depois do ‘Show da Madrugada’. Na época, o Apolinho vinha de 0h às 3h, eu entrava de 3h as 6h. O Antonio Carlos que entrava às 5h, passou a entrar às 6h da manhã. O Haroldo entrava de 9h ao meio-dia. Na sequência vinha Luiz de França e uma série de colegas muito legais. Quando eu volto para a Tupi, em 1996, me deram a manhã. Toda uma linguagem nova, descobrir o público da manhã e competir por esse horário, que agora está completando 23 anos”
MERCADO: GLOBO ABANDONA SEGMENTO POPULAR
“Foi uma opção da própria Rádio Globo. Ela resolveu mudar o público e virar rádio musical, com outro tipo de conteúdo. Não concorre mais com a gente. Eu costumo dizer que com esse movimento de mercado, a Tupi virou a última rádio gigante do país. Geralmente as rádios escolhem um segmento. Por exemplo: a JB quando ela diz que é lider, ela é líder do segmento dela: adulto contemporâneo, rádio musical. JB concorre com a Paradiso e Antena 1. A Mix FM concorre com a Transamérica, com público jovem, adolescente, rádio roqueira. A BandNews trava uma luta com a CBN. E a Tupi, durante esses últimos 50 anos, brigava com a Rádio Globo. A Tupi ficou sozinha com futebol e comunicação popular”.
AUSÊNCIA DA CONCORRÊNCIA
“Tudo é a maneira de ver. Aqui na mesa você está em um ângulo. Você enxerga de uma forma e eu de outra. A vida é desse jeito. Eu vou escolher o seguinte ângulo: não acabou a concorrência, apenas mudou. Quando a Tupi foi para a FM [em 2009], a gente começou a concorrer com Melodia FM, FM O Dia, JB e as rádios que estavam no FM. Hoje a Tupi está sozinha no quesito rádio show e prestação de serviço. Mas ela concorre, por estar no cenário FM, com a BandNews, com a CBN, com a Rádio Globo, mesmo com outra programação, com as rádios musicais, com a FM O Dia, que é popular, com a Melodia, que é evangélica, mas está no dial. Antes [no AM], eram Rádio Globo, Rádio Tupi e Rádio Manchete. Eram as três. Hoje, a concorrência existe, mas é diferente. Nós estamos no cenário que a Rádio Tupi concorre com rádios de outros segmentos: musical, evangélico, samba, pagode, rádio jovem e rádio de informação”.
O INÍCIO DA TUPI NO FM, EM 2009
“Eu fui muito beneficiado na passagem do conteúdo do AM 1280, que ainda existe, para o FM. Pelo formato do programa, pelo tipo de comunicação que eu faço. Até eu ir para o FM, eu era segundo lugar no Rio. O ‘Show do Antonio Carlos’, na Globo, liderava. Quando a Tupi colocou o conteúdo no FM e se pensou: muda alguma coisa, não muda… Chegou-se à conclusão de colocar o mesmo conteúdo e pagar para ver. Ver a reação da audiência do Rio de Janeiro. E foi maravilhoso. Um crescimento impressionante. Foi a primeira vez que eu consegui passar o horário nobre da Globo, de 6h as 9h, no Ibope geral, foi nesse advento. Eu coloquei isso no livro: o dia em que o Rio de Janeiro amanheceu trocando de emissora. Eu já tinha uma equipe maravilhosa: o Washinton Rodrigues, o saudoso Jorge Nunes, Maurício Menezes, o Andrea Gasparetti e a Solange Couto era a fofoqueira da época.
Nós tínhamos uma mesa com muita gente dando opinião. Depois, o Antonio Carlos recuperou e ficamos na briga pelo Ibope. O Sistema Globo de Rádio, por dois momentos, perdeu a hora de trocar o pneu dos carros. Como se fosse uma corrida de Fórmula 1. O primeiro, quando a CBN foi lançada, no canal da Mundial 860 AM. O grupo Bandeirantes botou a BandNews FM já no FM no Rio de Janeiro. A Globo teve que matar a Globo FM, a menina dos olhos do José Roberto Marinho, para poder botar o conteúdo da CBN no FM, demorou mais de um ano isso. A BandNews conseguiu se estabelecer. Dizem que na tecnologia, quem parte primeiro leva vantagem. Até hoje a BandNews lidera no segmento, em segundo a CBN. A Globo também demorou para colocar o FM dela. Ficou 1220 durante muito tempo. Alugou um FM [89,5 FM], não deu certo e teve que matar a 98 FM. Perdeu tempo, a Tupi assumiu a liderança.
RIO POR INTEIRO, NA RECORD TV
“Voltar à TV depende muito das cabeças das programações das televisões. Quando a gente fez o ‘Rio Por Inteiro’, na Record TV, foi o pontapé inicial da Record Rio na busca de concorrer com a TV Globo e as emissoras que tinham programação local. A Record é de São Paulo e ela, na ocasião, tinha um canal que praticamente retransmitia a programação nacional. Aí eles tinham que começar a fazer alguma coisa. O ‘Rio Por Inteiro’ foi a sementinha do Balanço Geral, depois bem sucedido com o Forcholen e com o Wagner Montes”.
PROPOSTAS PARA A TV
“No ano passado, o presidente da Record Rio, Fabiano Freitas, me chamou para almoçar. Ele me perguntou se ele acabasse, à tarde, [no horário das reprises das novelas, até o início do ‘Cidade Alerta’] com a retransmissão de rede e colocasse o Rio de Janeiro na TV. A ideia era fazer um programa da tarde. Na verdade, todo mundo está de olho na comercialização…
Almoçamos, mas não houve um segundo papo. O SBT se aproximou e tinha um projeto de colocar um programa no começo da noite. É a única emissora local que não tem jornal local à noite. Essa avançou mais, conversamos com o diretor de jornalismo. Tivemos duas ou três reuniões, incluindo o departamento comercial, com a liberação de São Paulo. Íamos fazer um programa onde eu ficaria de pé no estúdio, movimentando repórteres, jornalismo e trazendo convidados em cima dos fatos do dia. Seria uma espécie de ‘SBT Rio 2ª edição’, antes do SBT Brasil, o jornal nacional do SBT”
UM GAÚCHO NO RIO
“Eu estava no interior, e você tinha a facilidade de fazer um relativo sucesso. A rádio da cidade vizinha, chamava e eu ia. Eu gostava dessa sensação. Fiquei 10 anos fazendo rádio no interior do Rio Grande do Sul, ouvindo as grandes rádios do Brasil, as de São Paulo e do Rio de Janeiro. Ouvia Elyr Correa na Record, o Paulo Barbosa na Capital, ouvia de noite a Tupi do Rio de Janeiro lá no Rio Grande do Sul, o Colyr Filho, os programas do sucesso daqui e sonhava. Todo radialista do interior sonha em trabalhar nas grandes rádios do Rio e de São Paulo. Eu gostava mais do Rio de Janeiro por afinidade.
Era um sonho abrir a revista ‘Amiga’ e ver a entrevista com Luiz de França, da Rádio Globo, Haroldo de Andrade… Aí eu tentei. Vim uma vez aqui no Rio. O Edmo Zarife era o coordenador de locução do Sistema Globo de Rádio, lá na rua do Russel. Gravei um texto e fui embora. Um mês depois ele liga dizendo: ‘Gaucinho, pode vir que nós temos uma vaga para você’. Eu vim e fui trabalhar na Rádio Mundial 860… Peguei um programa chamado “Informação”, porque o dono do programa, o Dirceu Rabelo, estava indo para a TV Globo fazer chamadas… Foi meu primeiro momento”.
MOMENTO DO RÁDIO NO RIO E A CRISE NA TUPI
“Há uma crise no país e, às vezes, uma crise de boa gestão. Qualquer negócio que não tenha gestores que tenham visão na atividade, fica mais difícil. O rádio não foge disso. A Rádio Tupi praticamente fechou. Passou por uma fase que era impossível imaginar que fosse continuar no ar. Isso há três anos atrás, quando chegou um presidente, o Josemar [Gimenez]. Ele comprou a briga. A rádio toda endividada, sem crédito, uma rádio que tinha 300 funcionários. Ficou com 80 com intuito de manter a rádio viva. Ficamos um mês com música e comercial.
Muitos profissionais aproveitaram e saíram. Entraram na justiça contra a rádio. Só que a rádio não tinha como pagar. Se a gente não mantivesse a rádio viva, os colegas, que estão de forma justa esperando sua remuneração, não teriam de onde tirar o dinheiro. Então, o nosso presidente comprou a briga. Em uma crise como nunca se viu antes, conseguiu, com a força da marca da Rádio Tupi, e de seus funcionários, manter a rádio viva. Hoje ela é uma potência e está, graças ao sucesso dela, de audiência e comercial, conseguindo não só cumprir com quem está aqui, como também com os outros que não estão mais. Tanto que tem um acordo com o Ministério do Trabalho. A rádio separa todo mês uma quantia do seu faturamento para o pessoal que está esperando na justiça e indenizar as pessoas”.
CHEGADA DE ANTONIO CARLOS NA TUPI
“A vida desde que a gente nasce, ela é feita de mudanças. Não tem jeito. Tudo é cíclico. A gente veio de uma fase que a rádio podia quebrar. Aquele período, que a rádio ficou fora do ar, só com gravação de comercial e música, algumas empresas conversaram com a gente com interesse de a gente ir fazer o programa. Teve um grupo importante que chegou a se reunir e perguntar quais comunicadores poderiam ser levados e a gente fazer uma rádio popular, se a Tupi não voltasse… Quando a Tupi continua no ar, com uma proposta em respeito à sua marca e seu público, continua o trabalho e superar as dificuldades, tudo que se fizesse era em prol de se manter a rádio viva.
Qualquer sacrifício, por maior que se fosse, era pequeno diante do fato da rádio estar viva. Coisa que a gente não imaginava que fosse possível… Perder o horário, mas é muito pequeno comparado a possibilidade de perder a rádio. Eu teria que começar a construir a audiência em um outro canal, em outra emissora, para outro público. Então, foi uma mudança radical? Foi. Mas nada que não tivesse junto a possibilidade de a gente manter a marca forte da rádio e a gente continuar com o público que já consagra o nosso trabalho”.
ANTONIO CARLOS: DE CONCORRENTE A COLEGA DE EMISSORA
“Quando eu cheguei no Rio, começando lá na Tupi, ele estava lá. O Antonio Carlos foi de uma generosidade muito grande. Me vendo chegar no Rio, não só me dava comerciais para eu gravar e me pagava, como me levava para a visita aos clientes. Lembro que fomos na Imperatriz Vende Tudo, uma rede de varejo muito forte aqui no Rio. O dono era apaixonado pelo Antonio Carlos, anunciava no programa dele. Eu gravava para essa rede e outros clientes do Antonio Carlos. Primeiro momento em que eu era assalariado da rádio, não tinha meu próprio programa, ele me dava clientes para eu gravar e me pagava. Eu devo isso a ele… Tinha um respeito muito grande por ele. Na Rádio Globo eu fazia “escada” [entregava o horário] para ele. Eu fazia de 3h às 6h e ele de 6h às 9h.
Quando eu saí de lá aceitando a proposta do Mário Luiz, que se transferiu para a Rádio Tupi, em 1996, e me deu o programa da manhã, eu deixei um bilhete na redação da Rádio Globo: “Obrigado, por tudo colegas. Estou indo para a Rádio Tupi, vou ser o sparring do Antonio Carlos”. O sparring é o cara que treina com o boxeador campeão. Quando eu fui para a Tupi já sabia que ia concorrer com ele. Mesmo sendo segundo no mercado, eu estava no horário nobre e tinha um número mínimo de clientes pela rádio. Tinha, também, mais anúncios e faturamentos, comparado ao tempo de madrugada na Globo, onde só tinha o seu Arthur Sendas. Topei e vim para ocupar esse espaço. Hoje é um prazer receber o Antônio Carlos e faz aquela “escada” maravilhosa para o nosso programa”.
A INTERNET
“Eu estou tentando entender esse mundo novo da internet. Eu sou vizinho do youtuber Felipe Neto, um fenômeno no Youtube. Fizemos uma campanha de arrecadação de alimento no Engenhão, foi uma festa linda. Comecei a acompanhar o trabalho dele e do irmão dele, o Luccas Neto. São líderes de mercados no segmento deles, são fenômenos, estão ricos com isso. Tem gente que está no Youtube e ganha mais que os artistas da TV Globo. O Winderson Nunes, o menino gordinho engraçado da internet, virou galã, hoje casado com aquela mulher bonita, rico. Tem o Fred do ‘Desimpedidos’, que é muito bom. Eu estou conseguindo entender esse mundo. E onde eu conseguir levar uma mensagem onde possa fazer a diferença, onde eu possa ter algo para dizer, para melhorar, eu vou tentar. Essa evolução não tem fim. Veio para ficar”.
PALESTRAS
“Foi por acaso. Não foi planejado. Começaram a me chamar nas universidades para aula inaugural, curso para comunicação. Um dia fui chamado com alguns colegas para a Universidade Estácio de Sá. A gente participou de uma mesa e os estudantes de comunicação faziam perguntas. Dali, alguém nos chamou para uma semana de comunicação e outras coisas apareceram. Começaram a pintar novos convites. Depois fizemos dentro de empresas. A partir daí planejamos uma carreira, começamos a cobrar por palestra. É todo um tempo e um planejamento… Quando a gente bateu cem palestras, a coisa ficou séria. Começamos a nos preparar, porque tem que ter muito respeito pela pessoa que vai na sua palestra sair melhor preparada do que chegou ali. Fazemos faculdade, empresa e até mesmo igrejas. Pessoal me chama muito para encontro de casais… Minha especialidade é comunicação e relacionamento”.
SUPERMERCADOS MUNDIAL
“Minha aproximação é tão grande no Mundial, que quando você entra e sai do estacionamento do supermercado, sou eu quem fala. Os meus amigos gravam a minha voz e me mandam para brincar… Eu faço vídeos corporativos, para treinamento . Estou muito tempo no Mundial. Tem gente que não me ouve no rádio, mas conhece minha voz pela TV. Hoje temos diversos comunicadores aqui na Tupi que emprestam sua voz para os supermercados. O Alexandre Ferreira faz para o Uno. O Mário Belisário para o Rede Economia. O Antonio Carlos faz para o Guanabara. Isso é uma coisa do Rio de Janeiro. Aqui todo supermercado sabe que precisa anunciar no rádio, para fidelizar seu público. Uma tradição.