Caso os amantes do rádio queiram formar um time de “jornalistas raiz” com figuras do meio, Claudio Perrout, sem dúvida, não ficaria de fora. Dono de uma voz inconfundível, ele aceitou conversar o com o Audiência Carioca.
Com mais de 20 anos de serviços ao rádio, Perrout cobriu todos os grandes clubes cariocas pelas rádios Globo e Tupi. Nos últimos anos, criou um forte vínculo com o torcedor rubro-negro, especialmente quando atuou de setorista do clube de 2011 até a sua saída do Sistema Globo de Rádio, em 2016.
Mas engana-se quem pensa que a demissão foi encarada com pesar. Consciente, o radialista avaliou o fim do ciclo, o início do projeto ‘Os Caras do Rádio’ e a recém-chegada ao grupo SRzd. E não pipocou quando questionado sobre a polêmica entre jornalistas e o comentarista Juninho Pernambucano.
Nesta quarta-feira (23), Perrout estará na equipe que transmitirá River Plate x Flamengo pela Web Rádio SRzd. Antes da bola rolar, confira na íntegra o bate-papo com um dos maiores nomes do jornalismo esportivo do Rio.
#Audiência: Perrout, como você esta encarando essa nova oportunidade na Rádio SRzd?
Cláudio Perrout: Estou encarando com muito entusiasmo. Não é pela atividade em si, porque eu fiz isso praticamente durante toda a minha vida. Eu estava recolhido, participando de um projeto pessoal que toco com o Edson Mauro e o Jorge Eduardo, chamado ‘Os Caras do Rádio’. Então, quando surgiu esse convite do Sidney Rezende e dos demais companheiros, eu fiquei entusiasmado porque o projeto é totalmente novo. A rádio está saindo da estaca zero, tem apenas dois meses de existência e já tem mais de 200 mil ouvintes registrados durante esse período. Os nossos números são extremamente fortes, inclusive comparados aos de empresas sólidas, já estabelecidas por mais de meio século no mercado. Então, você começar um projeto de base é extraordinário. Ele já nasce vitorioso. Eu só estou pegando o ônibus andando. Entrar em uma equipe que você já sabe o que quer, o trabalho fica mais fácil. Meu sentimento é de satisfação muito grande.
#Audiência: Por mais de duas décadas, você foi voz do dia a dia dos clubes cariocas. Agora migra para a plataforma digital. Como vc encara e se preparou para esta mudança?
Cláudio Perrout: Nos últimos anos, a Rádio Globo já vinha nos preparando para essa transição. Nós tínhamos uma cobrança muito forte para nos atualizarmos e para que nos mantivéssemos sempre antenados com as novas tecnologias. Tanto é que não está havendo dificuldade nessa transição. É lógico, que eu, o Evaldo José [narrador], o Antonio Carlos Duarte [comentarista], o Felipe Santos [repórter] e o operador Fábio Calhau, enfim, todo o time, temos nos reunido para procurar uma linguagem que possa se adequar à vontade do público. A rigor, é um fato novo. Essa modificação para a web está ocorrendo agora e eu digo que tenho que evoluir, aprender novas técnicas. Mas já estava preparado, a base eu já tenho.
#Audiência: Como foi esse período após a saída da Rádio Globo até a ida para o portal SRzd? Chegou a receber propostas de outras emissoras?
Cláudio Perrout: Foi muito tranquila essa minha saída da Rádio Globo. Eu já estava na condição de aposentado, graças a Deus eu tive uma carreira de trabalho muito grande. Então, não tive susto. Durante meu período de trabalho eu pude construir as minhas coisas, meu filho já está formado na faculdade e eu com minha casa própria. Então, eu toquei o projeto ‘Os Caras do Rádio’, que é algo fascinante. Nós temos recebido apoio de muita gente. Ninguém nos faltou e, quando convidados, os ex-jogadores Petckovic, Juninho Pernambucano, Júnior, Donizete e o Zico, o jornalista Rica Perrone e tantos outros, todos nos atenderam. Nós estamos fazendo com muito carinho, procurando acertar a linguagem do público. Estou muito bem na minha situação de tranquilidade, acompanhar a minha neta, curtir minha família e fazer minhas atividades pessoais. A vida de repórter é desgastante, tudo que eu sempre amei, mas eu tava precisando de um bom descanso e, agora, chegou a hora de pôr o pé na estrada.
#Audiência: Atualmente você está na web rádio e, também, em “Os Caras do Rádio”, partindo para esse segmento digital. O que mais podemos esperar de novidades? Existem outros projetos?
Cláudio Perrout: Com relação aos ‘Caras do Rádio’, a nossa equipe é muito afinada. O Edson [Mauro, narrador] é um cara muito dedicado e é o mentor deste projeto. O Jorge Eduardo é um incansável, se vira, ele é produtor, faz tudo o que for necessário. Eu quero que vocês entendam que estamos procurando a linguagem para construir uma base de audiência. As pessoas vêm e curtem, já temos mais de 4 mil horas de audiência registrada no Youtube. Tanto que esta plataforma já nos enviou uma correspondência segundo a qual teremos direito à monetização. Também teremos direitos a alguns benefícios oferecidos por essa megaempresa. Estamos caminhando devagar, mas motivados. Todo dia nos reunimos para montar a pauta e levar para a audiência tudo aquilo que eles nunca ouviram dos entrevistados.
#Audiência: Você é um dos grandes setoristas do rádiojornalismo carioca. Como poucos, sabe como funciona o dia a dia dos clubes. Como vc recebeu a crítica de Juninho Pernambucano a essa classe?
Cláudio Perrout: Juninho foi de uma rara infelicidade. Eu fiquei pasmo quando ouvi. Fiquei incrédulo, pois o Juninho é uma pessoa muito coerente. Ele foi extremamente infeliz, não quero aqui tentar um antídoto para o desastre que ele criou, mas acho que ele mandou bala em um e acertou em milhares. Foi um erro muito grave do Juninho. Em todos os sentidos, imperdoável. O ambiente para ele estava insuportável. Depois de ter feito a coisa errada, ele fez a coisa certa se ausentando do meio. Não tinha mais ambiente para ele.
#Audiência: Muita gente do grande público não conhecia esse termo “setorista”. Sintetiza para a gente como é a rotina de trabalho desse profissional.
Cláudio Perrout: Setorista é a bucha do canhão. É aquela parte que queima e faz explodir a pólvora. O trabalho do setorista, vamos supor: o setorista do Flamengo, como eu fui durante muito tempo. Tem treino de manhã e à tarde. Eu tinha que estar na porta do Flamengo de manhã, ver a chegada dos jogadores, nem sempre com direito a acesso ao local de treino dos jogadores. Ficava de plantão na porta mesmo. Almoçava, voltava para o treino da tarde, acompanhava o treino, fazia as entrevistas. Depois, levava tudo isso para a empresa, editava e apresentava nos programas. Nesse meio tempo, fazíamos boletins, abastecendo a empresa. Dia de viagem, pegava o avião, ia para a cidade onde o time ia jogar, ia para o hotel deixar a mala rapidamente, ir para o estádio, jogo das 9 horas da noite e às 5 da tarde eu já estava lá. Tínhamos um técnico específico que fazia a montagem da estrutura. Saíamos do jogo 1 hora, às vezes 2 horas da manhã, porque o jogo acaba meia-noite, mas a gente tem o programa, tem o vestiário, recolher o material, retornar para o hotel. É uma atividade desgastante, porém prazerosa. Sem contar que os setoristas, se digladiam entre si. É um querendo dar a notícia na frente do outro. Isso causa muito desgaste. E como disse o Juninho, nem sempre, com raras exceções, o profissional é remunerado de forma condizente com a responsabilidade da função. Mas é um prazer estar na linha de frente.
#Audiência: Por fim, convida nosso leitor, que já te conferia no dial, a agora acompanhar seu trabalho nas novas plataformas.
Cláudio Perrout: Primeiro lugar quero dizer que o Audiência Carioca é um palco e um trabalho muito legal, dando espaço para a gente poder falar e podem contar comigo, estarei sempre com vocês. Eu agora estou na rádio SRzd. As pessoas perguntam como se faz para sintonizar. Basta abrir a internet e colocar ‘SRzd’ que vai aparecer lá a rádio e você clica e participa. Ainda não é uma rádio que está todo dia no ar. Nossa programação ainda está sendo montada. É certo que, em dia de jogos, nós estaremos transmitindo. É só acompanhar nas nossas redes sociais os jogos programados. Peço também que vejam com carinho e inscrevam-se no Youtube, no canal ‘Os Caras do Rádio’. Clica lá e faz a sua inscrição e acompanha os mais de 42 programas que já temos divulgados [veja abaixo].
Imagem: SRzd