A matéria exclusiva trazida no fim da edição do Jornal Nacional desta terça-feira (29) colocou o caso Marielle Franco e Anderson Gomes sob uma nova versão ainda não conhecida. O repórter Paulo Renato Soares elaborou um material onde o jornal teve acesso à lista de entrada e saída do Condomínio Vivendas da Barra, local onde Ronie Lessa e Jair Bolsonaro residem, na Barra da Tijuca. Ronie e Élcio Queiroz são os principais suspeitos de terem executado Marielle e Anderson.
Segundo o depoimento, o porteiro, que não teve a identidade revelada, afirmou que Élcio Queiroz pediu acesso ao condomínio através da casa 58, onde mora Bolsonaro. À polícia, o profissional afirma que conversou com “Sr. Jair” e que o mesmo deu autorização para sua entrada no local, em 14 de março de 2018, data em que a vereadora Marielle Franco e seu motorista, Anderson Gomes, foram executados no Rio de Janeiro.
Pela apuração da Globo, uma contradição foi encontrada no relato. Apesar de citar o nome do atual Presidente, o registro de ponto da Câmara de Deputados, em Brasília, marcou presença do então membro do legislativo no dia 14 de março de 2018. Vídeos na internet também mostram que Bolsonaro estava na capital federal.
Após o caso ganhar a mídia e as redes sociais, mesmo em viagem, Bolsonaro negou as citações feitas pela Globo e voltou a ameaçar e ofender a emissora pelo Facebook:
Isso é uma patifaria, TV Globo! TV Globo, isso é uma patifaria… Uma canalhice o que vocês fazem. uma ca-na-lhi-ce, TV Globo. Uma canalhice fazer uma matéria dessas em um horário nobre, colocando sob suspeição que eu poderia ter participado da execução da Marielle Franco, do PSOL… Temos uma conversa em 2022. Eu tenho que estar morto até lá. Porque o processo de renovação da concessão não vai ser perseguição, nem pra vocês nem para TV ou rádio nenhuma, mas o processo tem que estar enxuto, tem que estar legal. Não vai ter jeitinho pra vocês nem pra ninguém
Jair Bolsonaro
GLOBO RESPONDE
Mais tarde, a TV Globo emitiu seu posicionamento contra os ataques de Jair Bolsonaro pela internet. O texto foi lido no Jornal da Globo e será repicado nos principais telejornais da casa ao longo do dia.
Globo não fez patifaria nem canalhice. Fez, como sempre, jornalismo com seriedade e responsabilidade. Revelou a existência do depoimento do porteiro e das afirmações que ele fez. Mas ressaltou, com ênfase e por apuração própria, que as informações do porteiro se chocavam com um fato: a presença do então deputado Jair Bolsonaro em Brasília, naquele dia, com dois registros na lista de presença em votações.
O depoimento do porteiro, com ou sem contradição, é importante, porque diz respeito a um fato que ocorreu com um dos principais acusados, no dia do crime. Além disso, a mera citação do nome do presidente leva o Supremo Tribunal Federal a analisar a situação.
A Globo lamenta que o presidente revele não conhecer a missão do jornalismo de qualidade e use termos injustos para insultar aqueles que não fazem outra coisa senão informar com precisão o público brasileiro. Sobre a afirmação de que, em 2022, não perseguirá a Globo, mas só renovará a sua concessão se o processo estiver, nas palavras dele, enxuto, a Globo afirma que não poderia esperar dele outra atitude. Há 54 anos, a emissora jamais deixou de cumprir as suas obrigações”