A possível saída de Rodrigo Faro da Record escancara uma porta que já se abriu há muito tempo: os domingos da emissora viraram um calcanhar de Aquiles sem precedentes. Faro tem contrato com a Record até 31 de dezembro e teria recebido uma oferta 50% menor para renovar seu vínculo.
Nos últimos 14 anos, uma sucessão de fracassos, com raríssimos momentos a se comemorar, marcaram a programação dominical da emissora da Barra Funda. A começar por Gugu (1959-2019), maior aposta deste dia e que nunca atingiu o patamar de público, após ser arrancado do SBT por um salário de R$ 3 milhões mensais.
Estreou na faixa das 20h e foi derrotado na maioria das vezes por seu criador, Silvio Santos. Sambando na grade, foi para as 16h, onde também não foi capaz de superar Eliana. Ficou no ar entre 2009 e 2013 e não deixou saudade.
Paralelamente a esse período, Ana Hickmann foi outro personagem que não marcou os domingos da Record. De volta ao SBT, Eliana deixou o Tudo é Possível “redondinho” para Ana. Mas de nada adiantou.
Sem o carisma da antecessora, Ana voltou aos programas semanais e segue na Record formando o quarteto do Hoje Em Dia. Com forte apelo comercial, vai melhor em um formato que pouco depende da criatividade e do improviso do comunicador, marcas imprescindíveis nos domingos.
Em 2013, o Melhor do Brasil deixou os sábados, onde nadava de braçada, para desembarcar nos domingos. Trata-se do melhor momento da Record neste dia nos últimos tempos. Tanto que Rodrigo Faro conseguiu levar seu nome à grife do programa, em abril de 2014, passando a se chamar Hora do Faro.
Entre 2013 e 2017, os domingos da Record davam trabalho à concorrência. Vice-líder na maioria das vezes, incomodava a Globo no início da tarde e colocou uma sequência de vitórias de Faro em cima da Eliana.
Um diferencial chamava a atenção na ocasião: a entrada de Geraldo Luís, às 11h, era um verdadeiro e importante alavanque para o bom desempenho do Hora do Faro e do Domingo Espetacular, os maiores produtos comerciais da emissora.
Apesar de beliscar a liderança e contar com um orçamento modesto, a Record decidiu minguar o Domingo Show. Reduziu duas horas, passou a entrar mais tarde (de 11h para as 13h), terminou com a plateia e com as entradas ao vivo.
A série de decisões foi fundamental para que o SBT e o Domingo Legal, começando duas horas antes, retomassem a vice-liderança. Apesar da entrada da Disney das 11h às 13h, em 2018, o SBT conseguiu virar a chave e manter o público fiel no período.
Ainda em 2018, a Record bem que tentou voltar atrás, resgatando a plateia e as edições ao vivo do Domingo Show. Mas já era tarde demais. Em uma tentativa audaciosa, mas sem efeito, o programa ainda foi repassado à Sabrina Sato, em 2020, ficando três semanas apenas no ar.
A pandemia da covid-19 foi a justificativa para acabar com os dominicais de Sabrina e do Hoje Em Dia. Para dizer que nem tudo foi terra arrasada na pandemia, as edições do Hora do Faro relacionadas à Fazenda e ao Canta Comigo se destacaram entre 2020 e 2022 e chegaram à vice-liderança.
Caso seja confirmada, a saída de Rodrigo Faro dos domingos da Record só fecha uma ampla sequência de planejamentos equivocados e tomadas de decisões com pouquíssimo efeito. O popular “mexe no que está dando certo”.
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Imagem: Reprodução Youtube